sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Dentista da Família

             Após a separação, minha ex-esposa passou a implicar com o dentista da nossa filha só porque ele é meu irmão. “Muitos genes em comum”, sentenciou. Mas André, meu irmão, é um ótimo dentista. Certa vez, eu estava com uma dor de dentes terrível, tão forte que preferiria morrer. Meu irmão fez um heróico tratamento de canal e apesar de ter salvo minha vida, ele é uma boa pessoa, não deve ser julgado por isso.
            Aliás, falando em vida e se me permitem um parêntese, quando eu completei três anos realizei uma façanha tão incrível que fiquei famoso em Porto Alegre. Não vem ao caso contar o fato agora, vão achar estar apenas me vangloriando, mas minha fama era tamanha que os dois hospitais da cidade daquela época passaram a disputar em qual eu haveria nascido. Ambos alegavam ter provas irrefutáveis de que eu havia chegado a este mundo no outro hospital.
            Mas, voltando ao problema de encontrar novo dentista para a Ana Clara, a situação não estava fácil. A menina havia crescido, tinha oito anos e tendia a aumentar com o tempo. Ela não aceitava mais sofrer na cadeira de nenhum dentista passivamente. Luciane ligou para reclamar do comportamento da minha filha – nessas horas, ela só tem pai.
            – Essa menina está cada dia pior.
            – Deve ter puxado a mãe – sussurrei.
            – O que você disse?
            – Ela está linda igual à mãe. O que ela fez?
            – Mordeu a orelha da secretária e a dentista se recusa a atender a Aninha.
            – Ora para isso temos duas orelhas. Diga a dentista para parar de frescura e atender a nossa filha. Ela tem sorte de não ter sido a dela.
            – Na verdade, ela já foi mordida... duas vezes.
            – E o que você propõe?
            – Veja se seu irmão consegue dar um jeito nela.
            – Deixe-me ver se me lembro bem. Ah, sim! Na última vez em que conversamos, você disse preferir ver a Aninha ser atendida por um açougueiro de matadouro clandestino de beira de estrada ao geneticamente similar a mim. Foi esse mesmo o termo que usou, ou esqueci alguma ofensa?
            – Não me incomode, veja se o incompetente resolve alguma coisa.
            Levei minha filha ao meu irmão prometendo bolas duplas de sorvete com cobertura de chocolate e amendoim caso ela cooperasse. Olhei pelo espelho retrovisor do carro e pelas duas mãos colocadas a frente da boca, acho que não fui bem sucedido. Bom, para isso temos irmão caçula, não é mesmo? Olhando para a cara da Ana Clara tive a impressão de estar assistindo ao filme Hannibal. E tem gente que não valoriza a profissão de dentista.
            Chegando ao consultório, contei a história toda para o meu irmão, ele só me disse: “Deixa comigo” e entrou levando minha filha. Eu pude vê-lo pegando uma fita métrica pelo vidro do consultório e medindo a criança, depois tirou um martelo enorme de dentro de um armário, além de outros objetos que não enxerguei. Ficou conversando uns quinze minutos com a Aninha, não sei o que disse, mas nunca vi uma criança tão colaborativa, ela ficou de boca aberta o tempo todo. Parecia a Estátua da Liberdade pasma ao ver o Cristo Redentor passar. Uma beleza.
            Eu fiquei curioso e retornei no dia seguinte para saber como ele havia conseguido aquele milagre. Meu irmão contou a Ana que antigamente não existiam dentistas. Os médicos cuidavam dos dentes das pessoas. Ele seria a última tentativa da mãe para ela ser tratada por um dentista, senão seria levada a um médico e disse isso mostrando o alicate enorme, o martelo e o serrote usados pelos médicos para arrancar o dente de um infeliz. Então minha filha perguntou se o paciente não ficava com uma dor terrível na gengiva após os dentes serem arrancados e meu irmão respondeu que, pela força que faziam os médicos, não era culpa deles se a gengiva não vinha junta. Pelo sim, pelo não, passei a me comportar direitinho também.

domingo, 13 de novembro de 2011

A Namorada


            A separação não me fez nenhum bem, toda semana eu ligava para a minha ex-mulher para perguntar como estava a nossa filha e ela fazia questão de contar sobre seu novo namorado. Pela descrição dela, ele era mais forte que o incrível Hulk, mais rápido que o Usain Bolton dopado e ainda faz um risoto melhor do que o meu, desaforo!
            Mas isso não ia ficar assim, resolvi arrumar uma namorada, qualquer uma, conseguiria uma menina esta semana nem que fosse a mulher mais feia do mundo... e era. Os cachorros não chegavam perto. Ela tinha um nariz um pouco avantajado, mas se valia de um truque para disfarçar, não depilava os bigodes. Tinha a mania de jogar a cabeça para o lado fazendo charme, pelo menos era o que eu achava, até descobrir que o problema era a orelha esquerda ser bem maior do que a direita. Além disso, de tempos em tempos, era acometida por um tique de ficar piscando os olhos rapidamente. Ou estava recebendo um fax, ou então a invasão alienígena havia começado. Fomos a uma festa de gala e levei também a Ana Clara comigo. Ela olhou para a cara da minha namorada e perguntou:
            – Pai, é haloween?
            Larguei. A segunda não era feia, porém metida a intelectual. Qualquer assunto que eu falasse, ela interrompia para me corrigir, isso me irritava, eu estava para perder a paciência até que entramos em uma área na qual eu sou especialista, história. Começamos a falar da revolução bolchevique e ela me interrompeu para explicar que também era conhecida como “Revolução de Fevereiro”. Eu sorri ironicamente e disse que fevereiro era o meu aniversário. Na verdade, ensinei, a “Revolução Bolchevique” era conhecida como “Revolução de Abril”, ou “Abril Vermelho”. Ela foi embora junto com a sua empáfia desmoralizadas, ainda me ligou tentando pedir desculpas, dizendo que eu tinha razão, ela se confundiu e blá-blá-blá, mas agora era tarde, eu já tinha pesquisado na internet. Ela estava certa, nunca mais a perdoei.
            Eu havia chegado ao fundo do poço e, pior, desmemoriado não sabia voltar. Um casamento falido, um homem mais velho, mais feio, mais gordo e, pelo jeito, com alzheimer. Comecei a entender a minha ex-esposa.
            Estava acabado, então resolvi procurar ajuda profissional. Na realidade, João, meu psicoterapeuta, fez um cursinho por correspondência, parece que foi de eletrônica, não importa, ele não concluiu mesmo. João era ascensorista no ministério da Economia até que teve uma visão. Um negro forte, filho de Ogum, montado em um cavalo branco, trouxe para ele o cetro da verdade futura e ele passou a ser conhecido nos corredores da república nova de Brasília, como tio Chico. “Você tem um problema que não consegue resolver, qualquer problema, consulte com o tio Chico”, pelo menos era o que dizia o cartaz colado no poste.
            Na verdade, João não passava de um neguinho muito sem-vergonha para mim. Roubava no baralho, o mesmo que ele usava para ver o futuro quando uma autoridade aparecia. Cartas marcadas. E a visão que teve foi a da grana dos ex-ministros. Mas aquele safado tinha uma pinguinha danada da boa e era o único que me escutava. Pelo menos quando o teor alcoólico não permitia fugir.
            Ia pegar o elevador para ver o João, ou o tio Chico, sei lá, já cheguei bêbado mesmo, e ela entrou comigo. Às vezes, a sorte se confunde e acerta um azarado sem querer. Seus cabelos loiros voaram em minha direção quando ela tomou o elevador. Tomar era a palavra. Lançou-me um leve sorriso, pediu para apertar o 4 e eu marquei o 3, o 2, o 5. Bêbado é uma desgraça. Mas, pelo menos, o elevador custou a chegar. Eu até conversaria com ela, se soubesse qual das três era a verdadeira. Como era linda e, ainda por cima, falava.
            – Oi! – ela disse.
            – Aceito – respondi.
            – O quê?
            – Desculpe, acertei seu andar?
            – Eu sou nova aqui – ela me falou sem ligar para minha pergunta. – Conhece algum lugar para sair sexta à noite?
            – Claro! – eu lembro ter saído uma sexta à noite. Foi para comprar fraldas e minha filha já tem oito anos.
            – Você pode me levar?
            – Certamente, conheço um local ótimo – a última vez em que havia estado lá, o Brasil ainda era tri-campeão.
            Fiquei de ligar para ela. Comecei a me beliscar para ver se não estava sonhando, dancei uma mistura de “moon walker” com sapateado russo no elevador e gritei de felicidade, só aí me lembrei de não estar sozinho.
            Com certeza, ela era candidata a ser minha próxima futura ex-mulher. Linda, charmosa e querendo sair comigo, só pode ter algum problema... e tinha.
            Levei-a a um restaurante chique que aceitava cheques. Eles não me conheciam. Ela pegou o menu, aproximou-se de mim como quem vai contar um segredo e falou.
            – O preço do vinho aqui é um absurdo.
            – Sim – respondi sem graça. – Mas não precisa gritar.
            – Quem está gritando? – berrou. – Estou falando somente para você.
            – Então porque todo mundo está olhando para nós?
            – Deixa para lá. Você reparou na roupa do maitre?
            – Sim, mas seja discreta. Fale baixo.
            – Que mania você tem de achar que todo mundo está falando alto.
            – Não queria perguntar, mas você tem algum problema de audição?
            – Aviação?
            – Linda desse jeito, seria muita sorte – sussurrei.
            – Quem está pela hora da morte? – perguntou a surdinha.
            Fomos expulsos do restaurante, mas considerando o preço dos pratos até que foi providencial. Decidi levá-la para a minha casa, faria o meu risoto de bacalhau campeão, queria ver se aquele francês gay namorado da minha ex faria melhor. Ia dar o troco na mesma moeda.
            Enquanto deixava a panela aquecer, coloquei uma musiquinha romântica para dar um clima.
            – Gosta desta música?
            – Que música?
            Resolvi cantarolar a melodia no ouvido dela, fui me aproximando, o calor aumentando, eu a puxei para mais perto, colei-a no meu corpo e comecei a assobiar a canção no ouvido dela.
            – Está gostando? – perguntei.
            – Estou, exceto de um zumbido no meu ouvido. Você deixou a panela de pressão ligada?
            Desisti da música, mas então tive uma grande idéia. Levei-a ao meu home theater e coloquei um clássico para assistirmos. Depois de 15 minutos.
            – Não dá para aumentar o volume?
            – Pensei que você tinha reparado.
            – No quê?
            – O filme é mudo.
            – Por que você colocou um filme mudo? Acha que eu sou surda? Eu não sou surda. Eu escuto muito bem, fique sabendo que eu terminei com o meu ex-namorado só porque ele vivia cismando para eu fazer um exame de surdez. EU NÃO SOU SURDA!!!
            E saiu pela batendo a porta... mas, com certeza, ela não ouviu isso. Enfim, para não estragar meu risoto, fui buscar a única mulher na minha vida que realmente me ama.
            – Pai, o que a gente vai fazer?
            – Vamos jantar, mas antes vou fazer o ultra mega super chocolate-quente do papai. Com três cerejas e chantili extra.
            – Legal e a gente pode chamar o Jean Pierre?
            – E para que o papai vai querer chamar o namorado da mamãe?
            – É que ele faz um chocolate-quente melhor do que o seu.
            Deixei a Ana Clara com a mãe. Alguém aceita um chocolate-quente? Tem risoto também.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meu Vizinho Jason



Seu verdadeiro nome é José Antônio, mas depois de ter sido o único sobrevivente de um acidente aéreo, adotou o apelido de Jason e é bom não contrariá-lo. Até que ele não seria tão assustador se não tivesse dois metros e cinco de altura e também de largura. Ficou com uma cicatriz horrível no lado direito da cara, mas adotou uma máscara de hóquei que só cobre a metade esquerda do rosto. Vai entender, cada mania.
            É um ótimo vizinho e seria perfeito se, nos dias de lua cheia, não uivasse tanto. Depois do acidente ficou meio abobado, digo, distraído, costuma entrar em casa sem se importar em tocar a campanhinha e, às vezes, sem abrir a porta também, mas ele conserta depois. Adora fazer esculturas com a serra elétrica, já tive cada porta linda, só pedi para ele parar de esculpir gárgulas e demônios. É um artista... gótico!
            Jason tem seus defeitos, ele é muito descuidado com o jardim, está cheio de buracos, cansei de reclamar. Outra coisa ruim é que vive dando carne para os meus cachorros, eles o adoram. Só que aí se recusam a comer a ração que eu compro. Confesso, outro dia o peguei dando carne crua para os meus cães, fiquei com tanta raiva que o golpeie com a pá na cabeça. O animal tirou o boné, botou a mão espalmada para cima e me disse com aquela voz rouca: “vai chover”. Idiota!
            Jason é um sujeito tranqüilo, os outros é que ficam nervosos quando ele liga a moto-serra. Bobagem, Jason só não gosta mesmo é de maestro. Depois do acidente, ele ficou com a voz um tanto gutural. Para dizer a verdade é meio cavernosa mesmo. Então, ele se descobriu um cantor de ópera, mas não se dá bem com os maestros. Costuma dizer: “maestro bom é maestro morto”. É um brincalhão esse Jason, de qualquer forma o último voltou para a Itália no mesmo dia.
            Para se sustentar, ele dá aula de canto. Toda quinta-feira tem uma estudante lá. E, ao contrário do que se possa supor, Jason é um ótimo professor, vocês não acreditariam no agudo que as meninas conseguem atingir. O tom é tão alto que parecem estar morrendo. Um espetáculo. E Jason é pegador, cada semana está com uma menina diferente. Quem diria, hein?
Eu não vejo a hora de ter um vizinho famoso. Aliás, estou lendo o jornal e imaginando a cena, mas, nos dias de hoje, os periódicos só falam em assassinatos, fiquei sabendo que o número de homicídios aumentou tremendamente na minha região, mas quem confia em estatística oficial, não é? Minha rua mesmo é tranqüila, tranqüila, quase não vejo os vizinhos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ih, engordei!

            No último mês, eu comi feijoada todos os sábados e alguns domingos também, as exceções ocorreram nos dias da churrascaria, sempre apreciei um rodízio. Para compensar, eu prometi correr todos os dias e também ajudar o lar dos velhinhos de Santa Helena ameaçados de despejo, coitados, mas quem se importa com promessas?
            Analisando friamente o fato de eu estar comendo mais e me exercitando cada vez menos, é fácil concluir que a culpa para eu estar engordando é totalmente e sem a menor sombra de dúvidas da minha ex-sogra(1). A jararaca deve estar torcendo para eu não namorar mais ninguém.
            Resolvi tomar uma atitude, fui procurar meus amigos professores de educação física.
            – Oi! Eu vim falar com vocês para ver se podem montar um treino para eu perder calorias. Não sei se vocês notaram, mas eu engordei um pouco.
            – Um pouco? Ai! – disse Geraldo, antes de levar um pisão no pé dado por Juliane.  – Quero dizer, um pouco, bem pouco, não é Juliane? Agora tira seu pé de cima do meu – sussurrou com os dentes cerrados.
            – Pode deixar, Tauil. Com certeza, a gente monta um treino e você vai voltar ao seu peso normal depois de um tempo.
            – Uns quatro anos, ai! – completou Geraldo, levando outra pisada. – Digo três anos, ai! Meses, três meses. Não dá para pisar no outro pé agora? Ai!
            – Você pediu – cochichou Ju.
            Os dois me deixaram exercitando em um aparelho enquanto se afastavam para discutir o caso.
            – Você está louca? – esbravejou Geraldo. – Ele não está gordo, está enorme. Lá no meu saudoso Acre, ele ia servir para lacrar bueiro.
            – Fala baixo, Geraldo. Ele está gordo, não surdo.
            – Aposto que a gordura já tapou os canais auditivos.
            Começo a entender a baixa expectativa de vida acreana.
            Os dois colocaram a mão no queixo, coçaram a cabeça, então Ju suspirou, colocou os óculos na mesa e veio falar comigo. Enquanto ela me orientava quais atividades eu deveria fazer, mais eu entendia o quanto estava gordo.
            – Ju! Eu estou deste lado, esse que você está conversando é o saco de bolas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Vingança do Vento

            Quem mora no centro-oeste e já teve pelo menos uma hortinha de fundo de quintal sabe: agosto é o mês dos ventos fortes. Era o maior inimigo das mulheres, até que Isaac Newton descobriu a gravidade. Depois disso, o Vento passou a andar por aí, cabisbaixo, quase esquecido, dentro de pastéis de bares sombrios e na companhia de coxinhas de reputação duvidosa. Mas, quando agosto chega, é hora da sua vingança. Nem o laquê de Hebe Camargo pode com ele. Aliás, dizem que ela quis economizar na última cirurgia e veio a Brasília. Bastou cinco minutos com a cara para o vento para ela ficar com aquele sorriso parecendo o Curinga, uma gracinha. Pois fiquem sabendo: venta tanto por aqui em agosto que se a cabeça de o Neymar estiver alinhada em noventa graus em relação à direção do vento, é capaz de o jogador ir parar em Cabo Verde. Mais ou menos onde aterrissaram os pênaltis cobrados pelo Brasil.

domingo, 24 de julho de 2011

A Construção do Universo Segundo o PR



– Mandou chamar, Todo Poderoso?
– Mandei, Waldemar. Eu estava pensando em criar outro paraíso, o jardim do Éden.
– Grande idéia, chefe. E eu tenho a pessoa certa para o serviço.
– Mas olha lá, hein? O orçamento está apertado e o Diabo está de olho – disse batendo três vezes na madeira – É só um jardinzinho em um pequeno planeta, coisa pouca, apenas para dois indivíduos a minha imagem e semelhança morar.
– Deixa comigo. O Nascimento é o cara certo para ser seu mestre-de-obras.
– Tudo bem, gostei do nome, monta um cronograma.
No primeiro dia.
– Seu Waldemar, o que vocês fizeram? Era só para criar o dia e a noite.
– Caro Jeová, porém só dia e noite ia ficar meio sem graça e muito previsível. A gente pensou em acrescentar um satélite natural ao planeta, assim teremos uns eclipses de vez em quando.
– Boa! Gostei, pode continuar. Não sei como eu, sendo o Todo Poderoso, não tinha pensado nisso antes.
No segundo dia.
– Alô!
– Seu Waldemar, você terminou de separar a água da terra.
– Olha, seu Poderoso. O negócio não é fácil assim não. Separar a gente até separou, só que deu uns vazamentozinhos que dividiu o oceano em sete, mas a gente já está providenciando.
– Não seria porque você contratou a empresa do seu primo ao invés da melhor?
– Bem...
– Não minta para mim, eu estou em todos os lugares.
– Desligou na minha cara, mas que sujeitinho! Se ele sabe de tudo para que me ligar? Agora seu Lucival da Costa Neto, você fez essa cagada, você arruma. Acelera aí que o Homem está nervoso.
No terceiro dia.
– Alô!
– Seu Waldemar, cadê a terra seca e as árvores frutíferas?
– Ô do poder, deixa comigo. Você não ia querer criar um jardim fraquinho desses, o que vão dizer do senhor no futuro?
– O que vão dizer eu já sei.
– Ah, é! Pois se o senhor sabe, nem preciso falar, mas vamos incrementar isso daqui, vai ter planta de tudo quanto é jeito, contratamos uma empresa de paisagismo de primeira.
– A empresa da sua mulher.
– O Seu Poderoso, o senhor é muito apegado em detalhes, mas olha o resultado.
– Eu só vejo escuridão.
– Não, eu estou falando do futuro, o senhor não vê o futuro? Então.
– Talvez nem eu viva tanto para ver isso, apressa esse serviço, Zé!
– Falando em Zé, o Zé Bigode está querendo participar também.
– Pensei que ele ia sossegar com a presidência do senado.
– Você sabe como ele é.
– Não me incomode com detalhes, eu quero é essa obra pronta logo.
No quarto dia.
– Alô!
– Waldemar, era para criar apenas o sol, a lua e algumas estrelas.
– Ô chefia, sem algumas galáxias, isso ia ficar muito pobrezinho.
– Algumas? Vocês criaram mais de 200 bilhões de galáxias. Eu só vou colocar duas pessoas lá, você já ouviu falar em custo x benefício?
– A gente ia criar só umas três, mas aí vieram seu Bigode, Renan e até o duplo ‘L’ para dar pitaco.
– Ai, ai. Quando Lúcifer veio com a idéia de criar um senado para mediar nossas brigas, eu deveria ter desconfiado.
No quinto dia.
– Alô, chefia! Já sei, vocês está ligando para me cobrar o andamento da Obra. Está uma beleza.
– Waldemar, era para criar uns peixinhos.
– Pô, chefe! Mas você tem de concordar comigo que essas baleias são umas simpatias.
– E ainda por cima mamíferos. Era para criar os mamíferos na terra.
– Eu já pensei nisso, Seu Poderoso. Depois elas migram.
– E o orçamento para isso?
– Bom chefe, vai custar um pouquinho a mais.
– Sei e as aves? Era para ter uns dois papagaios e nada mais, como você me explica os pterodátilos?
– Mas do Poder, você não pode querer as coisas logo, tem toda uma evolução até chegar lá. Você acha que criar é fácil?
– Eu devia ter estalado meus dedos.
– O que o senhor disse?
– Deixa para lá. Termina logo isso aí.
No sexto dia.
– Alô!
– Waldemar, eu não falei para você fazer só um cachorro?
– É verdade.
– E o que é isso aí?
– Um rinoceronte.
– Waldemar, para que eu quero esse monstro?
– Ele leva muitas vantagens sobre o cachorro.
– Que vantagens, Waldemar?
– Ora, para vigiar a casa. Com uma blindagem dessas e esse chifre enorme, ladrão nenhum vai se atrever a invadir o local.
– Nem os donos, o rinoceronte é um animal selvagem.
– Ah, é! Então vamos soltar na floresta.
– Que floresta, Waldemar? Era só um jardim. Jardim, Waldemar! E outra coisa, só vão ter dois indivíduos, para que um animal de guarda?
– Tenho de admitir, o senhor sabe tudo.
– Fuuuuuuuuhhhhhhhhhh!
– Ô Poderoso, suspira mais devagar. Olha, seu suspiro causou um vendaval aqui. A gente vai ter de refazer umas coisinhas, talvez fique um pouco mais caro.


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Piratas do Caribe em Brasília

            Ana Clara me pediu para levá-la ao Piratas do Caribe, apesar de ter torcido o pé e estar usando bengala, pai é pai. Fui. Chegando ao shopping, Ana Clara quis tomar sorvete e logo naquela sorveteria mais cara que serve um copinho minúsculo junto a um guarda-napo preto imenso. Bem que poderia ser ao contrário, afinal eu estou pagando o sorvete ou o guarda-napo?
            Com muita dificuldade, fui me arrastando para a fila, uma mão na bengala, outra no sorvete e uma terceira na Ana Clara, não me perguntem como, pai é pai (*). Esperando a fila andar, um garotinho na frente ficou olhando para a minha bengala e perguntou para a mãe:
            ─ Mãe, esse aí atrás é um dos piratas?
            ─ Não, meu filho.
            ─ Tem certeza?
            ─ Tenho.
            ─ Mas eu quero brincar com ele.
            E eu olhando a discussão e pensando: “vou dar uma bengalada nesse moleque”.
            ─ Mas, mãe, eu quero brincar com ele.
            ─ Não pode, já falei, ele é um pirata falso.
            ─ Pirata falso ─ disse se virando para mim e acertando um bico bem no meu tornozelo machucado.
            Com a dor, eu me curvei, acabei acertando a cabeça no sorvete e com o guarda-napo colado no meu olho direito. Enquanto eu via estrelas, um outro menino passou me olhando.
            ─ Pai, estão encenando aqui.
            ─ É, filho. Eu nunca tinha visto expressões faciais tão realistas. Que ator! Parece até que está sofrendo.
           
(*) Aprendi observando o Ricardo levar os tri-gêmeos para passear.

domingo, 3 de julho de 2011

Quem com o Ferro Fere

      Passear com a filha no shopping ao domingo é um evento cultural. Aprendemos muito em apenas uma voltinha. A primeira coisa que descobri é que o preço do cinema parece não ter complexo de grandeza. A segunda é sempre usar o guardanapo para limpar o banco antes de sentar, ou seu traseiro vai ficar brilhando mais que o traje da destaque da alegoria principal do maior carro a desfilar na avenida no carnaval.
      Como Ana Clara anda mais chata para comer que vegetariano em churrascaria, deixei-a escolher onde e local para criança é Mac Donalds. Eu odeio tudo isso. Mas como ela passou nas provas, vamos lá!
      – Eu queria um Mac Lanche Feliz e uma promoção do Big Mac.
    – Por vinte e nove centavos, o senhor tem direito a uma batata-frita e refrigerante grandes – disse caprichando no ‘s’ final.
      – Não, obrigado.
      – Tem certeza? São só vinte e nove centavos – sorriu.
      – Tenho – rosnei.
     Por que todo vendedor acha que nós mudaremos de idéia se ele insistir? “Ah, claro. Ainda bem que o senhor repetiu, eu tinha dito não? É que meu cérebro nunca pega de primeira, sabe como é, igual carro velho”.
      – O senhor ganha alguma comissão por venda aqui no Mac Donalds? – perguntei.
      – Não.
      – Claro que ganha.
      – Não ganho nada a mais.
      – Vai, confessa! Você queria me vender a porção grande porque o gerente te dá um extra por isso.
      – Não, juro que não. Meu salário é fixo, se você não acredita em mim, pode perguntar ao gerente.
      – Eu acredito, só repeti para você ver como é chato ficar fazendo a mesma pergunta várias vezes.
     Por sorte, o atendente já tinha me servido, ou meu sanduíche viria cuspido. Amo muito tudo isso, mas acho melhor não voltar.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Este Pai é um Fracasso!

Segunda semana de provas da Aninha e ela ainda pegou uma alergia danada, não para de se coçar. Experimente ensinar como nasce uma plantinha enquanto a criança tenta alcançar zonas inacessíveis das costas parecendo um vira-lata perseguindo o rabo. É nessas horas que a gente descobre que a carnaúba parou de produzir palmito para fornecer cacau. Ainda tentei explicar que Colombo chegou às Bahamas e não ao Brasil, mas, Aninha muito me ensinou que se ele atingiu as Bahamas - que é um cocozinho no mapa - e não o Brasil, foi porque Corumbo (não é erro de digitação) era parente do mister Magoo. E Thomas Edison não inventou a lâmpada e sim o choque elétrico. Desisti do ciclo da cana-de-açúcar. Aceito conselhos.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Destruindo no Origami

            Depois de testar a paciência budista do Ricardo, nosso professor de origami, na aula da SIPAT e destruir uma resma e meia de papeis variados aperfeiçoando a técnica, finalmente cheguei à perfeição.
            – E aí, o que achou?
            – O que é isso?
            – Uma aranha.
            – Ah!
            Mas antes de o Ricardo dar sua opinião definitiva sobre a minha aranha perfeita, a Andréia entrou na sala.
            – Quem deixou esse papel amassado na mesa?  – disse atirando minha criação no lixo.
            Sorte dela eu não ser uma pessoa rancorosa, e, mais sorte ainda, o Bruno e o Geraldo estarem perto para me segurar antes que eu a estrangulasse. Pelo menos inicialmente. Como me sedaram com dormonid e eu não me lembro de nada, tive de me certificar com a única pessoa que eu realmente confio para saber o que aconteceu depois. Afinal, se você necessita de uma informação precisa e rápida, a quem pergunta? A bibliotecária, lógico!
            – Ivy, é verdade que chamaram toda a segurança para me conter?
            – Toda a segurança? Até o Fred, o general Gobato e o capitão Nascimento vieram da sede para te segurar e... tuuuuuuu.
            Como eu sempre digo: jamais confie em uma bibliotecária.
            Se você duvida das minhas habilidades, saiba que eu sou capaz de lançar uma folha A4 para o ar com as mãos algemadas para trás e calçando um par de luvas e, antes de tocar o solo, transformar o papel em uma aranha caranguejeira.
            Para comprovar minha destreza, eu chamei uma pessoa totalmente idônea e imparcial para julgar meus trabalhos: Ana Clara. Não me abalei com as denúncias e uivos caninos alegando uma suposta ameaça de cortar parte da mesada dela em caso de notas injustas. Fiquem sabendo que o perseguido sou eu. No dia seguinte, as quatro rodas do meu carro novo (novíssimo se me permitem) amanheceram mijadas. Aqueles vira-latas! Vou vender para uns chineses aqui do bairro que amam carne de cachorro.
            Mas, retornando ao veredicto, Aninha se aproximou dos meus dois origamis, deu uma volta ao redor de cada uma, coçou o queixo, sacou sua lupa procurando imperfeições, analisou detalhes, avaliou o grau de dificuldade e equilíbrio das obras, sacou seu bloquinho de notas e começou a escrever sem parar. A agonia era tamanha que eu já estava roendo a unha do Simba, meu cão ancião. Finalmente não agüentei mais e perguntei:
            – Gostou?
            – Adorei! É a girafa mais perfeita que eu já vi.
            – Na realidade é uma aranha.
            – Ah! Tudo bem, não tem importância, pois eu gostei mesmo foi da coruja.
            – Era outra aranha.
            Voltei a usar papel apenas para escrever meus contos, magoei!
            – Alô! – respondi atendendo o interfone no dia seguinte.
            – Seu Alexandre, aqui é o Geraldo, o porteiro (*).
            – Sim.
            – É que eu vi no seu lixo, sabe como é, sem querer, eu não reviro o lixo dos outros. Mas eu encontrei um bicho de papel que o senhor fez.
            – O senhor gostou.
            – Muito. Posso ficar?
            – É todo seu! – disse mais satisfeito que solteirona em festa de universitários.
            – Poxa, muito obrigado! É a girafa de papel mais bem feita que já vi... alô... alô... seu Alexandre?
           
(*) a piada de que todo o porteiro se chama Geraldo é do próprio Geraldo.

domingo, 5 de junho de 2011

Um Pai em Apuros

            A separação não fez bem muito bem às minhas finanças. O problema é que este mês é o aniversário da Aninha e terei de fazer algo.
            Quando era menino, uma festa que tinha coca-cola ao invés de groselha já era uma festa chique, mas hoje eles nem sabem o que é groselha. Saudades do tempo em que bebíamos este refresco como quem toma o néctar dos deuses. Ficávamos com a língua vermelha e os dentes fosforescentes por uma semana. Ótimo para pregar peças à noite brincando com o espelho, geralmente em nós mesmos. Experimenta acordar apertado e correr para fazer pipi. Ir ao MacDonalds então só em ocasiões especiais. A família se reunia, toda feliz, partindo para o fast food como quem se dirigia ao restaurante mais caro da cidade. Os três filhos dos meus queridos pais, inclusive este que vos narra a história, sorriam de orelha a orelha apesar do aperto no banco de trás do fusquinha.
            Mas hoje, vivemos nos tempos das vacas gordas, apesar de eu achar ser das vacas loucas. As crianças estão acostumadas a festas tão grandes que não se pode marcar jogo de futebol no mesmo horário senão não dá público... no estádio.
            Além da falta de dinheiro, outro problema é que a mãe sempre cuidou de tudo, eu só assinava o cheque... e chorava. Mas se não tenho dinheiro, ainda me resta a imaginação.
            Foi assim que pensei em fazer uma caça ao tesouro em casa, na qual um mapa leva ao próximo, encontrando, vez por outra, preciosidades de altíssimo valor como um anel de plástico (150 deles = 2 reais, fora o choro deste comprador).
            Aos amigos que queiram me ajudar a incrementar o perigoso caminho até encontrar o baú do Barba Ruiva, aceito sugestões.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Nota Legal - Fique Esperto!

            Quem ainda não se cadastrou no site do GDF, deveria. O governo nos cobra um absurdo de imposto e são raras as chances de receber algo em troca, quanto mais o próprio dinheiro.
            Porém foi observando o site do Nota Legal que percebi algo estranho. Cupons do supermercado Super Maia raramente reembolsavam algo. Normalmente o valor a devolver vem “0,0”. Depois percebi o mesmo com os cupons do “Big Box”. Por quê? Liguei para o 156, opção 3, e fui questionar. Ninguém soube me explicar. Mas depois de muita insistência, uma atendente – já de saco cheio comigo (é possível ser a suicida do noticiário das oito) – me passou um e-mail para eu questionar o porquê.
            Como sou brasileiro e não desisto nunca, mandei e-mail para agrem@fazenda.df.gov.br. Aguardo explicações.
            Ah! Outra coisa, reparei que a padaria na qual eu compro meu pãozinho de cada dia dá direito a 8% de reembolso, mas o supermercado, quando reembolsa, voltam míseros 1,71%. Isso significa para mim que a padaria do seu Juca, mesmo vendendo os mesmos produtos do supermercado, é tarifada em um percentual muito maior, por quê? Mandei outro e-mail.
            Último parágrafo (eu juro), nas linhas de extrato do site do Nota Legal, referente aos cupons dos supermercados, quando o valor não é reembolsado aparece a seguinte mensagem: “Não foi possível atribuir créditos. Devido ao sigilo fiscal, a SEF/DF não está autorizada a informar o motivo da não geração do crédito nos casos em que envolvem informações fiscais do estabelecimento”. Quer dizer: nós, cidadãos, não temos o direito de saber nem o porquê. Outro e-mail para o GDF.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Por que ter filhos?

– Ana Clara, cadê o telefone?
– Eu escondi.
– Isso eu percebi. Mas onde está?
– Tem de procurar, ué!
– Seu pai está com pressa, eu tenho de ligar para o banco até as 17h, senão fecha e eu não consigo aplicar o dinheiro.
– Então procura, ora!
– Está no quarto? Está por aqui?
– Está frio.
– Debaixo da cama?
– Está frio.
– Eu vou te matar!
– Vai andando, está ficando quente.
– Ana Clara, falta um minuto para as 5h.
– Eu não estou com pressa.
– E agora?
– Está quente... está quente... está fervendo.
– Achei! Mas não está funcionando.
– Você não encontrou as pilhas.

domingo, 22 de maio de 2011

O Homem de Ferro

            Não é para me vangloriar, mas vocês sabem que eu tenho uma saúde de ferro. O problema é que na minha idade, a saúde já enferrujou há muito tempo. Ontem fui dar uma corridinha e o joelho começou a doer. À noite, fui a uma festa junina e o sereno me deu uma coriza danada deixando o meu olho direito totalmente fechado e, para completar, dormi de mau jeito e meu pescoço travou a ponto de eu parecer a torre de Pisa, pendendo para o lado.
            Apesar de estar todo ruim, prometi à Ana Clara levá-la ao cinema. Pai é pai, besta é besta. Chegamos em cima da hora e a Aninha ainda resolveu ir ao banheiro antes do filme. Ai, ai. Pai é pai, besta é besta. Reparei que não estava parecendo muito bem quando um menininho passou do meu lado e comentou com sua mãe.
            – Mãe, aquele é o corcunda de Noti Dami?
            – Ô, meu filho, não fala assim do aleijado.
            ‘Mãe é mãe, vaca é vaca!’ – pensei.
            – O senhor está esperando alguém? – perguntou um senhor com dois garotinhos.
            – Sim, estou esperando minha filha – na realidade, eu queria dizer: ‘não, vim para a frente do banheiro para respirar ar puro’.
            – O senhor poderia ficar olhando meus dois filhos, enquanto vou ao banheiro?
            – Claro – os traficantes de Milão vão ficar supercontentes(*).
            E o homem entrou afobado no banheiro para fazer seu pipizinho, enquanto eu aguardava a minha filha e vigiava os dois pestinhas.
            – Caramba, como ele é feio! – disse o menor para o maior.
            – Será que o olho fechado é de vidro? – cochichou o maiorzinho.
            Não se deve bater em criança, mas instintivamente levantei a mão para dar um cascudo no mais velho, para quê? Deu uma fisgada na coluna que eu não podia nem abaixar o braço.
            – Ih, ele quer brincar de estátua.
            – É, ele está imitando a Estátua da Liberdade.
            – Aposto que se eu fizer cosquinha nele, ele se mexe.
            – Há, há, há! Não se mexeu, não se mexeu.
            – Ah, é? Então vou dar um chute nele, de bicuda! Toma!
            – Não se mexeu, não se mexeu!
            – Mas ele enrugou a cara.
            – Enrugou nada, ele é feio assim mesmo.
            – Vamos, meninos, papai já voltou. Muito obrigado.
            Se eu pudesse mover minha mão, enforcaria um por um.
            – Pai, você está bem?
            – Ana, você se incomoda se formos para casa?
            – Não, mesmo sem ver um filme, você continua sendo o pai mais lindo do mundo – falou isso me dando um beijo no rosto.
            Não é para me gabar, mas eu tenho uma saúde de ferro, estou me sentindo ótimo!

(*) Super-contentes ou supercontentes? Fui pesquisar como ficou depois das novas regras. O hífen não deve ser usado quando o prefixo termina em consoante e a segunda palavra começa por vogal ou outra consoante diferente.
hipermercado – hiperacidez - intermunicipal – subemprego – superinteressante – superpopulação