Ana Clara me pediu para levá-la ao Piratas do Caribe, apesar de ter torcido o pé e estar usando bengala, pai é pai. Fui. Chegando ao shopping, Ana Clara quis tomar sorvete e logo naquela sorveteria mais cara que serve um copinho minúsculo junto a um guarda-napo preto imenso. Bem que poderia ser ao contrário, afinal eu estou pagando o sorvete ou o guarda-napo?
Com muita dificuldade, fui me arrastando para a fila, uma mão na bengala, outra no sorvete e uma terceira na Ana Clara, não me perguntem como, pai é pai (*). Esperando a fila andar, um garotinho na frente ficou olhando para a minha bengala e perguntou para a mãe:
─ Mãe, esse aí atrás é um dos piratas?
─ Não, meu filho.
─ Tem certeza?
─ Tenho.
─ Mas eu quero brincar com ele.
E eu olhando a discussão e pensando: “vou dar uma bengalada nesse moleque”.
─ Mas, mãe, eu quero brincar com ele.
─ Não pode, já falei, ele é um pirata falso.
─ Pirata falso ─ disse se virando para mim e acertando um bico bem no meu tornozelo machucado.
Com a dor, eu me curvei, acabei acertando a cabeça no sorvete e com o guarda-napo colado no meu olho direito. Enquanto eu via estrelas, um outro menino passou me olhando.
─ Pai, estão encenando aqui.
─ É, filho. Eu nunca tinha visto expressões faciais tão realistas. Que ator! Parece até que está sofrendo.
(*) Aprendi observando o Ricardo levar os tri-gêmeos para passear.
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