quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meu Vizinho Jason



Seu verdadeiro nome é José Antônio, mas depois de ter sido o único sobrevivente de um acidente aéreo, adotou o apelido de Jason e é bom não contrariá-lo. Até que ele não seria tão assustador se não tivesse dois metros e cinco de altura e também de largura. Ficou com uma cicatriz horrível no lado direito da cara, mas adotou uma máscara de hóquei que só cobre a metade esquerda do rosto. Vai entender, cada mania.
            É um ótimo vizinho e seria perfeito se, nos dias de lua cheia, não uivasse tanto. Depois do acidente ficou meio abobado, digo, distraído, costuma entrar em casa sem se importar em tocar a campanhinha e, às vezes, sem abrir a porta também, mas ele conserta depois. Adora fazer esculturas com a serra elétrica, já tive cada porta linda, só pedi para ele parar de esculpir gárgulas e demônios. É um artista... gótico!
            Jason tem seus defeitos, ele é muito descuidado com o jardim, está cheio de buracos, cansei de reclamar. Outra coisa ruim é que vive dando carne para os meus cachorros, eles o adoram. Só que aí se recusam a comer a ração que eu compro. Confesso, outro dia o peguei dando carne crua para os meus cães, fiquei com tanta raiva que o golpeie com a pá na cabeça. O animal tirou o boné, botou a mão espalmada para cima e me disse com aquela voz rouca: “vai chover”. Idiota!
            Jason é um sujeito tranqüilo, os outros é que ficam nervosos quando ele liga a moto-serra. Bobagem, Jason só não gosta mesmo é de maestro. Depois do acidente, ele ficou com a voz um tanto gutural. Para dizer a verdade é meio cavernosa mesmo. Então, ele se descobriu um cantor de ópera, mas não se dá bem com os maestros. Costuma dizer: “maestro bom é maestro morto”. É um brincalhão esse Jason, de qualquer forma o último voltou para a Itália no mesmo dia.
            Para se sustentar, ele dá aula de canto. Toda quinta-feira tem uma estudante lá. E, ao contrário do que se possa supor, Jason é um ótimo professor, vocês não acreditariam no agudo que as meninas conseguem atingir. O tom é tão alto que parecem estar morrendo. Um espetáculo. E Jason é pegador, cada semana está com uma menina diferente. Quem diria, hein?
Eu não vejo a hora de ter um vizinho famoso. Aliás, estou lendo o jornal e imaginando a cena, mas, nos dias de hoje, os periódicos só falam em assassinatos, fiquei sabendo que o número de homicídios aumentou tremendamente na minha região, mas quem confia em estatística oficial, não é? Minha rua mesmo é tranqüila, tranqüila, quase não vejo os vizinhos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ih, engordei!

            No último mês, eu comi feijoada todos os sábados e alguns domingos também, as exceções ocorreram nos dias da churrascaria, sempre apreciei um rodízio. Para compensar, eu prometi correr todos os dias e também ajudar o lar dos velhinhos de Santa Helena ameaçados de despejo, coitados, mas quem se importa com promessas?
            Analisando friamente o fato de eu estar comendo mais e me exercitando cada vez menos, é fácil concluir que a culpa para eu estar engordando é totalmente e sem a menor sombra de dúvidas da minha ex-sogra(1). A jararaca deve estar torcendo para eu não namorar mais ninguém.
            Resolvi tomar uma atitude, fui procurar meus amigos professores de educação física.
            – Oi! Eu vim falar com vocês para ver se podem montar um treino para eu perder calorias. Não sei se vocês notaram, mas eu engordei um pouco.
            – Um pouco? Ai! – disse Geraldo, antes de levar um pisão no pé dado por Juliane.  – Quero dizer, um pouco, bem pouco, não é Juliane? Agora tira seu pé de cima do meu – sussurrou com os dentes cerrados.
            – Pode deixar, Tauil. Com certeza, a gente monta um treino e você vai voltar ao seu peso normal depois de um tempo.
            – Uns quatro anos, ai! – completou Geraldo, levando outra pisada. – Digo três anos, ai! Meses, três meses. Não dá para pisar no outro pé agora? Ai!
            – Você pediu – cochichou Ju.
            Os dois me deixaram exercitando em um aparelho enquanto se afastavam para discutir o caso.
            – Você está louca? – esbravejou Geraldo. – Ele não está gordo, está enorme. Lá no meu saudoso Acre, ele ia servir para lacrar bueiro.
            – Fala baixo, Geraldo. Ele está gordo, não surdo.
            – Aposto que a gordura já tapou os canais auditivos.
            Começo a entender a baixa expectativa de vida acreana.
            Os dois colocaram a mão no queixo, coçaram a cabeça, então Ju suspirou, colocou os óculos na mesa e veio falar comigo. Enquanto ela me orientava quais atividades eu deveria fazer, mais eu entendia o quanto estava gordo.
            – Ju! Eu estou deste lado, esse que você está conversando é o saco de bolas.